Desde o início do Plano Real, em julho de 1994, a tarifa do transporte público de Fortaleza sofreu reajuste 450%. No mesmo período, porém, o incremento no salário mínimo do brasileiro foi de 868,5%. Já a variaçaõ da inflação acumulada desde então até maio de 2013, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi de 332%. Atualmente, o valor da tarifa em Fortaleza é de R$2,20. “O que vale ressaltar é que o reajuste do salário mínimo, nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, nos dois mandatos de Lula, e no mandato de Dilma, ele sempre esteve acima da inflação. Porque (o salário mínimo) foi usado como parte da política de distribuição de renda”, diz o economista Lauro Chaves, professor da Universidade Estadual do Ceará (UECE). Chaves ressalta, ainda, que para os usuários de ônibus com renda mensal de um a três salários mínimos, o preço da tarifa, em relação aos seus orçamentos, caiu. A maior diferença entre inflação e o reajuste da passagem ocorreram no hiato de 1994 a 2003. Enquanto que nesse período o IPCA se elevou em 160%, a passagem foi reajustada em 275%, passando de R$ 0,40 para R$ 1,50. Por sua vez, entre 2003 e 2013, o ritmo de reajuste da tarifa desacelerou. Enquanto que a inflação oficial registrou 67,1% nesse intervalo, a passagem do transporte público da Capital variou de R$ 1,50 para R$2,20, ou seja, 46,6% de aumento. A desaceleração na última década se deve, principalmente, aos subsídios concedidos pelo poder público para diminuir os efeitos dos reajustes no bolso dos usuários. Dentre eles, estão as alíquotas do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS), que é praticamente zero, e a do Imposto sobre Circulação de Bens e Serviços (ICMS) cobrado sobre o diesel do transporte público, que caiu de 17% para 8,5%. Além disso, na última década, os ganhos salariais dos trabalhadores ficaram acima da inflação. Entre 2003 e 2013, o salário mínimo passou de R$240 para R$ 678, um reajuste de 182%. De acordo com o professor do Departamento de Engenharia de Trânsito da Universidade Federal do Ceará, Mário Azevedo, para analisar a evolução da tarifa do transporte público de Fortaleza, é necessário observar que entre 1994 e 2013 houve o aumento da demanda de passageiros, o que necessitou o aumento da frota de ônibus, e a expansão da cidade, que representa maiores distâncias a serem percorridas. Segundo ele, essas variáveis influenciam diretamente no custo do transporte público. Segundo o especialista, o cálculo dos custos do transporte considera o quilômetro rodado e a quantidade de passageiros. Ele lembra que, quanto mais usuários utilizem o transporte público, menor será o custo por quilômetro. Nesse caso, ele diz que é possível reduzir a tarifa, sem necessariamente reduzir a qualidade. Ainda ele, caso houvesse planejamento seria possível racionalizar custos. “Grande parte das cidades sofrem a consequência de não ter planejamento. As cidades incharam demais. Você tem áreas das cidades saturadas. Você tem de controlar esse crescimento”.(colaborou Bruno Cabral)