Poucos cliques bastam para adquirir um produto no mercado de compras virtuais. De peixes
ornamentais à venda de imóveis, o comércio na internet dispõe de uma variedade de itens
imensa. Ao mesmo tempo, exige do cliente atenção redobrada para as falsas ofertas ali
publicadas. Em geral, são mercadorias com preços abaixo dos da concorrência, mas que
após a confirmação do pagamento, não chegam à residência do comprador, tampouco
possuem nota fiscal e garantia de fábrica.
De acordo com o titular da Delegacia de Defraudações e Falsificações (DDF), delegado
Jaime Paula Pessoa Linhares, que investiga crimes de estelionato em todo o Estado do
Ceará, a maior parte dos golpes registrados em páginas virtuais ou grupos em redes sociais
é resultado da compra ou venda de eletrônicos, seguida de passagens aéreas e veículos.
Conforme o delegado, o site OLX lidera o número de Boletins de Ocorrência (B.O.s) na
Especializada.
“A OLX pode se dizer que é a campeã. Todo dia nós temos dois, três, quatro Boletins de
Ocorrência de pessoas que compraram ou venderam através da OLX e foram vítimas de
algum golpe. Ou comprou um celular, fez o pagamento e não recebeu o objeto comprado;
ou vendeu seu celular e recebeu o pagamento através de um envelope vazio; ou adquiriu,
através de um anúncio na OLX, uma Hilux no valor de R$ 25 mil mais 41 parcelas de
R$1.020, fez o depósito bancário e não recebeu o veículo”, exemplifica o delegado.
Pelas investigações já concluídas ou em andamento na DDF, os itens são oferecidos
com custos aquém do mercado. Segundo Jaime Paula, os criminosos anunciam “muito
mais barato”, com o objetivo único de concretizar o golpe, o que na opinião do delegado é o
grande “atrativo” para os clientes. “Quando você tem um celular de R$ 6 mil em uma loja
física, e R$ 3 mil na internet, já pensa que é a metade do preço. Se esquece da nota, da
garantia e se vai receber ou não o produto. Eles colocam o preço abaixo daquele praticado
pela própria loja para induzir o comprador a fechar o negócio e não permitir que faça outra
consulta”, pondera.
Em contrapartida, o usuário que divulga produtos para venda em sites de compras, também
pode se tornar vítima dos estelionatários, em uma prática conhecida como golpe do
envelope vazio. Os suspeitos fingem ter depositado o valor da mercadoria na conta
bancária do anunciante e apresentam o comprovante da transação, antes do valor ser
creditado, exigindo a entrega imediata do objeto. “A eficácia do golpe vai ter sucesso se for
no banco Bradesco, porque é o único banco que libera o valor que consta no envelope como
sendo no teu saldo positivo. Nem bloqueado é”, afirma o delegado Jaime Paula Pessoa
Linhares.
Há cerca de 15 dias, a universitária Iasmim Grimauth, passou de anunciante à vítima,
nessa modalidade de golpe. Depois de publicar na internet a venda de um smartphone, um
suposto cliente demonstrou interesse na compra do aparelho. ”Ele me perguntou se o
Iphone tinha marcas de uso, garantia e se acompanhava os acessórios”, disse a estudante,
que detalhou ainda como se deu a forma de pagamento do produto. “Também perguntou se
eu tinha conta no Bradesco porque facilitava para ele. A transação seria feita pela conta da
empresa onde ele trabalhava”, aponta.
Por não ser cliente do respectivo banco, Iasmim Grimauth repassou a conta corrente de
uma amiga. Tendo conhecimento dos dados, o golpista fez o depósito em um envelope
vazio e, rapidamente, enviou para ela a foto do comprovante da transação. “Depois, ele
pediu meu endereço e disse que um mototáxi estaria vindo buscar a mercadoria”, lembra. O celular foi entregue ao profissional na portaria do prédio onde mora. Somente 24 horas
depois, a universitária descobriu que a transação não havia sido concluída. Ela registrou
Boletim de Ocorrência, mas o celular ainda não foi recuperado.
Perfil
Ainda segundo o titular da Especializada, a democratização do acesso à internet tem
permitido que os criminosos invistam na prática de golpes virtuais. Alguns deles têm até
conhecimentos básicos de informática ou dominam a área de Tecnologia da Informação (TI).
Contudo, o delegado ressalta que o mercado de vendas falsas na internet abre espaço,
sobretudo, para pessoas sem estabilidade financeira por conta do desemprego, ou, para
aquelas que veem nos golpes virtuais a oportunidade de adquirir bens em um curto espaço
de tempo.
“São pessoas que têm conhecimento, mas não tem oportunidade de emprego ou já atuam
voltados para a prática criminosa, pelas facilidades que ela proporciona: farra, dinheiro
rápido, sucesso do retorno garantido, porque quando você expõe à venda não está
vendendo só para um. Como não existe a mercadoria para vender, você ‘vende’ 100, 200
vezes. E é sempre valor baixo”.
Em uma das últimas ocorrências registradas na DDF, por apenas R$ 300, um jovem vendia
na OLXcertificados de conclusão do ensino médio acompanhado do histórico escolar.
Lucas Viana Castro Miranda, de 22 anos, foi preso no dia 22 de setembro último, momentos
antes de fazer a entrega da encomenda na Avenida Beira-Mar, em Fortaleza. À Polícia, o
suspeito confessou ter vendido outros dois documentos antes do flagrante, alegando
dificuldades financeiras.
“Ele tinha anúncios na OLX e em uma página no Facebook. Em cima da informação que
nós tivemos, passamos a investigar e fazer o acompanhamento do caso. A prisão foi feita
quando ele estava em frente ao Mercado dos Peixes. Esses perfis a gente acompanha com
frequência”, garante Jaime Paula Pessoa Linhares.
A OLX explicou que a atividade da empresa consiste na disponibilização de espaço
virtualpara anúncio de produtos e serviços, e reconheceu que “as ferramentas da Internet
são utilizadas por terceiros de má índole”. Ainda de acordo com a plataforma, o site não se
envolve no processo de negociação entre os clientes. “Toda negociação é realizada fora do
ambiente do site, assim, a empresa não participa das transações feitas entre os usuários”,
informou, em nota.
Diário do Nordeste