Disputa por clientes do Pix leva bancos a criarem novas facilidades

Cidades Economia Notícias Saúde

Com transações instantâneas, instituições financeiras precisam ir além de tarifas zero para garantir base de clientes. Sorteios, bônus e outras vantagens são oferecidos por bancos e fintechs para fisgar novos consumidores

A corrida dos bancos e fintechs para garantir o cadastro de chaves do Pix deve se converter em benefícios para os clientes, como já se vê com as ofertas de prêmios das instituições financeiras de até R$ 1 milhão. Na concorrência com a gratuidade, praticidade e segurança prometidas pelo novo modelo de pagamento instantâneo do Banco Central (BC), as instituições financeiras vão precisar se desdobrar para aumentar e fidelizar a base de clientes criando ofertas tão atrativas quanto.

Oferecer redução na cobrança de tarifas, prática comum dos bancos, é a primeira estratégia a ser abandonada, já que o Pix, até agora, não gera qualquer custo para pessoa física e MEIs. Apenas para a pessoa jurídica a instituição detentora da conta do cliente pode cobrar tarifa pelo envio e recebimento de recursos, com as finalidades de transferência e de compra.

Reinvenção do mercado

A disputa do mercado mostra o potencial da ferramenta para mudar o desenho do sistema bancário. 

“No geral, isso é bom para os consumidores, que vão ter redução de taxas e despesas, maior rapidez e segurança. E é bom pro sistema financeiro, que vai promover uma maior competitividade. O cliente vai ter o mesmo serviço em qualquer agência financeira, não é exclusividade de um banco ou de uma fintech. Vão ter que conquistar clientes em cima de produtos e serviços reais, e não em cima de tarifas”, comenta a economista Silvana Parente. 

Não se deve esquecer ainda o fator comodidade, acrescenta o economista e coordenador do curso de Economia da Universidade de Fortaleza, Alisson Martins. “Tempo é dinheiro também. O Pix vem exatamente para te proporcionar isso, a comodidade de fazer transferência 24 horas por dia, sete dias por semana”.

Para ele, o mercado financeiro deve apostar em taxas de juros menores para operações de crédito. 

“O País tem um espaço muito grande ainda para o mercado de crédito, principalmente, com essa nova realidade de taxa de juros. A gente passou muito tempo com taxas de juros elevadíssimas. Hoje, ainda é muito alta, mas vem caindo de uma forma interessante. Quanto menos taxas de juros, a possibilidade de pegar mais empréstimo fica potencializada”, explica Martins. 

Em relação à competição com as fintechs, apesar do DNA de inovação trazido nas startups do setor financeiro, as grandes instituições contam com a vantagem do volume de clientes, segundo o economista. “Acho que eles vão sentir, mas sempre conseguem uma saída para essa concorrência”, aposta.

Maior fluxo

Com 21 dias de operação, o novo sistema já tinha 99,7 milhões chaves cadastradas – pode ser CPF/CNPJ, e-mail ou telefone celular do recebedor, ou ainda uma chave aleatória, opção disponibilizada pela instituição financeira ou de pagamento no aplicativo instalado no celular. Conforme dados do Banco Central, atualizados até a última quinta-feira (3), aderiram à ferramenta 40,4 milhões de usuários pessoa física e 2,5 milhões de usuários pessoa jurídica. 

Para Martins, ao cair no gosto popular, todo o sistema de pagamento vai fluir através do Pix. “Por exemplo, você vai pagar sua conta de telefone só apontando seu celular, não mais para um código de barras, mas pra um QR Code. Vai abastecer seu carro num posto de gasolina, em vez de passar o cartão de crédito, vai passar o Pix”, prevê. 

A favor do movimento competitivo, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) coloca como principais ferramentas desse jogo o Pix e o Open Banking – plataforma pela qual o usuário compartilha dados e tem acesso a produtos de diversas instituições financeiras nas quais pode buscar condições mais vantajosas, com previsão para começar a operar em fevereiro de 2021. 

“(Elas) terão um papel importante e proporcionarão maior conveniência e facilidades para os clientes, como já ocorreu com outras ferramentas, como mobile banking, tokenização e internet banking. Entretanto, destacamos que as regras sejam iguais para todas as instituições participantes destes sistemas, sejam bancos já estabelecidos ou novos competidores que estejam entrando. A Febraban e os bancos defendem que o mercado seja o mais transparente possível”. 

Rastreamento

O aumento no fluxo de recursos pela plataforma Pix vai proporcionar aos bancos maior poder de rastreamento de seus clientes. Por exemplo, ao pagar despesas com restaurantes, combustível, lazer ou itens de uso individual pelo Pix, o consumidor vai oferecer mais dados, de forma mais rápida, ao sistema financeiro, assim como ao Banco Central. 

Com isso, as instituições vão obter mais elementos para criar produtos personalizados e persuadi-los a aderir aos serviços, interpreta o economista Alisson Martins. 

“A gente está na era da customização. Pegando produtos customizados e entregando pro cliente já mastigado. As instituições enxergaram essa outra possibilidade, de ver o cliente de maneira muito mais assertiva. Nesse contexto, estão tentando trazer essas chaves pra elas, aí vira uma guerra”, completa. Essa seria a compensação para a perda de receita dos bancos com a redução de transações via TED e DOC. 

“Eles vão querer batalhar pra disputar produtos e serviços pra conseguir recuperar essa receita. Por exemplo, quem colocar a sua chave principal no banco e achar boa essa facilidade, vai ser atraído pelo banco como cliente para outros produtos e serviços”, concorda Silvana Parente.

Desuso de cartões

A nova forma de pagamento deve ainda reduzir o uso de outras formas à vista. “Os pagamentos no débito vão ser substituídos pelo Pix paulatinamente”, confirma Parente. No caso dos cartões de crédito, o economista Alisson Martins enxerga maior resiliência. “As pessoas têm maior uso, têm uma série de coisas atreladas a cartão de crédito, como, por exemplo, programa de milhagem, seguros. Ele é mais robusto, mas mesmo assim vai sentir, principalmente, quando o Pix agendado entrar em operação”, prevê o economista. 

O agendamento dá a possibilidade de o usuário fazer o pagamento em data futura. Pelo menos um banco já iniciou a operação do Pix agendado. 

No entanto, há um fator limitador para a adesão dos empresários. O risco da operação recai sobre a empresa. “O risco de não ter dinheiro na sua conta no dia do vencimento passa a ser não da operadora do cartão de crédito, mas sim da empresa”, reforça Martins.

Vantagens

O sorteio de premiações em dinheiro é a primeira isca das instituições financeiras para captar clientes. A maior oferta, de R$ 1 milhão, é do banco Santander. Em outros bancos, as condições variam entre bônus de R$ 5 e premiações de R$ 100 mil para quem cadastrar a chave Pix. Na Caixa, as transações possuem limites diários, que variam de R$ 1.200 a R$ 5 mil. Já o Nubank apostou em estender a gratuidade para clientes de conta PJ.

DN

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *