A internação do paciente que tem comorbidades, por Covid-19, já dura seis dias. Sem previsão de conseguir leito de UTI, até o momento.
Edredom e travesseiro, no chão da calçada em frente a UPA do Vila Velha e noites mal dormidas, essa é a saga de Jessé dos Anjos para acompanhar o pai, que permanece internado, ha seis dias, com o novo coronavírus na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Vila Velha, em Fortaleza.. “Quase uma semana acampado aqui, dormindo na calçada do hospital, vivendo da ajuda de amigos e vizinhos da UPA para poder acompanhar meu pai na luta contra a Covid-19, durante as 24 horas do dia”.
Com uma complicação no quadro clínico do pai, na última terça-feira (12), Jessé corre contra o tempo para conseguir um leito de UTI. O filho se recusa a deixar o local, onde tem dormido na calçada da unidade hospitalar há seis dias e só pretendo sair depois que conseguir um leito de UTI para o pai.
Internado às seis horas da manhã da última sexta-feira (8), com febre, tosse e falta de ar, Jocélio da Silva, de 62 anos, é mais uma internação por Covid-19 no sistema de saúde pública do Ceará. Além de idoso, Jocélio também tem hipertensão, diabetes e é portador de hiperplasia prostática benigna, o que requer mais cuidado com a sua situação.
“Eu demorei a levar ele para internar por medo de não ver mais ele e também porque eu achei que poderia cuidar em casa. Ele também pediu que não queria ir, mas sexta-feira nós conversamos e eu o convenci a ir, mesmo com medo”, relembrou Jessé, sobre como o medo de perder seu pai quase o impediu de o levar para a internação.“[Senti] muito, muito medo. Meus irmãos chegaram a esconder meu pai de mim, com medo da gente perder ele no hospital”, relembrou.
Leito de UTI
Na terça-feira (12), o quadro clínico de Jocélio sofreu uma complicação respiratória, e desde de então a busca do filho por um leito de UTI tem sido incessante. “Meu pai teve uma complicação respiratória ontem e precisou ser entubado com urgência para sobreviver, enquanto eu vou atrás de um leito de UTI. De lá para cá, a minha busca tem sido incessante. Eu estou bastante nervoso ainda, porque eu só tenho escutado não, em todos os lugares que vou”, disse emocionado.
De acordo com a Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (Sesa), pela plataforma digital IntegraSUS, 24 unidades hospitalares estão operando com mais de 80% de ocupação nas UTIs. “Não sei mais o que fazer. Tô pra todo lado correndo esses dias e sem encontrar saída, pois são muitas viagens em vão, Secretaria de Saúde, Hospitais, Fórum, Defensoria. Passei o dia de porta em porta, hospital em hospital, e agora eu estou perdido, sem uma luz”, foi assim que o filho descreveu a situação em que se encontra.“Continuo na batalha e não aceito voltar pra casa sem ele”, concluiu.
Na tarde desta quarta-feira, foi despachada pelo Poder Judiciário do Estado do Ceará, um pedido para leito de UTI para o idoso. “Requer a sua imediata transferência para hospital público terciário que contenha leito de UTI e, caso alegue falta de vagas, seja encaminhado para hospital da rede privada de saúde, às custas do Estado do Ceará”, declaro do documento da 3ª Vara Cível da Comarca de Caucaia.
Em nota, a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) informou que ainda não foi notificada do processo judicial referente a Jessé de Sousa Silva. A Sesa afirmou ainda que a Central de Regulação continua mantendo contato com a UPA 24h no Vila Velha, em Fortaleza, sobre atualização do quadro clínico do paciente e que está fazendo busca ativa por disponibilidade de leito em hospital de referência.
A Sesa disse ainda que, para atender os casos graves de coronavírus, o Governo do Ceará já abriu mais de 500 leitos de UTI para atendimento de Covid-19 na rede pública do Ceará. E que a ampliação com novos leitos está sendo operacionalizada na proporção da chegada dos equipamentos, insumos e composição dos recursos humanos.
Diário do Nordeste