O bairro mais populoso de Fortaleza é que acumula mais óbitos pela doença. E, quando comparado a cidades do Ceará, cuja população é semelhante ou mais numerosa, a Barra chega a ter um número de mortes mais elevado
O bairro mais populoso de Fortaleza, a Barra do Ceará, já teve 134 mortes por Covid. O número de óbitos é o maior dentre todos os bairros da Capital. Na área, segundo dados usados pela Prefeitura, são 79.346 habitantes. Para se ter dimensão, esse total de moradores supera à população de 171 cidades do Ceará, se analisado isoladamente cada município. Isto pode explicar, em parte, o alto número de mortes.
Mas, em paralelo, quando comparada a cidades cearenses cuja população é maior que a do bairro, ou seja, municípios com mais de 79 mil habitantes, a Barra do Ceará continua chamando atenção: o bairro tem mais mortes por Covid do que Aquiraz, Quixeramobim, Pacatuba, Quixadá, Iguatu, Maranguape, Itapipoca e Crato, quando contadas as ocorrências de cada cidade.
Nesse cenário, até o dia 26 de fevereiro, a Barra do Ceará, com 79,3 mil habitantes tinha 134 mortes. Já Aquiraz, por exemplo, cidade da Região Metropolitana, cuja população é de 80,9 mil pessoas, teve 46 óbitos em decorrência da doença. Outra cidade da RMF, Maranguape, que tem 130 mil habitantes, com 129 mortes, teve menos registros que o bairro da Capital. Situações semelhantes ocorrem nas demais cidades mencionadas.
Os dados utilizados na análise do Diário do Nordeste são aqueles disponibilizados no Integrasus, plataforma da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), quanto ao número de mortes por cidade do Ceará, e os dos boletins epidemiológicos da Prefeitura de Fortaleza, com dados sobre a situação nos bairros da Capital.
No Ceará, dos 11,2 mil óbitos pela doença, 4,7 mil foram de moradores de Fortaleza. Na Capital, sobretudo, os bairros das periferia concentram o maior número absoluto de óbitos. Além da Barra do Ceará, dentre os 10 bairro com mais mortes estão: Vila Velha, Granja Lisboa, José Walter, Mondubim, Vicente Pinzon, Meireles, Messejana e Centro.
A virologista, epidemiologista e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Caroline Gurgel, explica que em Fortaleza, para analisar os óbitos é preciso “temos que levar em consideração os determinantes sociais, fatores de risco, não apenas para a letalidade, mas que aumentem a exposição ao vírus, acesso à saúde e a qualidade desse serviço oferecido”.
Ela acrescenta que, em bairros mais pobres a exposição pode ser maior, e, muitas vezes, ainda não se tem garantia de serviços básicos.
Avaliação do cenário na Capital
O médico epidemiologista e gerente da Célula de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza, Antônio Lima, ao avaliar o boletim semanal de casos e óbitos da última semana, relata que o município “confima aumento substancial de casos na transição de janeiro para fevereiro”. Mas, segundo ele, isso, felizmente, não tem se traduzido em número de óbitos. “Temos uma média próxima de 700 casos por dia, enquanto a média de óbitos oscila em torno de 10 a 11 óbitos, mas também em trajetória ascendente”.
Antônio reforça que o atual momento é preocupante, portanto, é fundamental aumentar os esforços para conter a transmissão no novo coronavírus. Dentre as medidas, ele reitera o uso de máscaras e o combate às aglomerações.
DN