Família mantém tradição de engenho de cana-de-açúcar

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A região Centro-Sul cearense já manteve em atividade, até a década de 1970, cerca de 50 engenhos. Hoje, apenas um continua funcionando

Os sucessivos anos de chuvas abaixo da média contribuem para a significativa queda na safra da cana-de-açúcar. Sem matéria-prima, os engenhos não têm como transformar a garapa em doces apreciados pelos sertanejos: a rapadura, batida e alfenim. Outro entrave é o elevado custo de produção e baixo valor de venda dos produtos derivados.

 

A família Rufino, proprietária do engenho, se esforça para manter viva a tradição da moagem. Fogo a todo vapor, tachos cheios de mel cozinhado. É sempre assim quando tem moagem de cana-de-açúcar no engenho do sítio Junco.

 

O método de produção é centenário. O engenho dos Rufinos foi construído há mais de cem anos. O trabalho começa pela madrugada, por volta das 3h. “Uma turma vai para o corte da cana, outra fica preparando o fogo, limpando os tachos, deixando tudo no ponto para começar a moagem”, explica o agricultor, Francisco Rufino, 86 anos.

 

No passado, sem energia elétrica e equipamentos modernos, Francisco Rufino lembra que a moagem era feita com juntas de bois. “Começava às 10 horas da noite e seguia o dia inteiro”, recorda. “Hoje está moderno e mais prático, mas ainda exige muito trabalho e disposição”.

 

Estiagem

 

Rufino lamenta a falta de chuva nos últimos anos que vem refletindo diretamente na queda da safra e da redução da moagem. “Antes, funcionava o mês inteiro, agora só uma vez”, explica. O agricultor aposentado continua na atividade, tocando com os filhos o engenho da família. “Pra mim é uma alegria grande ver eles todos aqui fazendo esse trabalho. São sete filhos e todos sempre participaram das moagens”, comemora.

 

Dia de moagem, aliás, é de festa na localidade. No entorno do engenho, o cheiro forte da garapa cozida se espalha e é um convite para apreciar como é feito o trabalho e degustar os doces. “Não vamos deixar a tradição morrer. Continuaremos até o dia que Deus quiser”, assegura Rufino.

 

Preferência

 

O curioso é que os consumidores locais preferem comprar mais o mel de engenho e o alfenim à rapadura. Quando a safra de cana-de-açúcar é maior é possível produzir todos os derivados. “Já houve ano em que a gente não fez sequer um cento de rapadura”, lamenta Rufino. “Mas o pouco que ainda é feito é vendido”, diz Francinete Rufino, agricultora.

 

O responsável para dar o ponto certo de cozimento da garapa é o mestre Eudes Gomes, que aprendeu o ofício ainda criança. “Tem uns 30 anos, que faço esse trabalho e já rodei esses engenhos todos da região, mas atualmente só tem esse aqui e um em Acopiara”, conta.

 

A falta de cana-de-açúcar inviabiliza os engenhos. Até na região do Cariri, essas unidades praticamente desapareceram. A rapadura consumida em grande parte do Ceará vem de Santa Cruz do Capiberibe, em Pernambuco.

 

DN

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