Iguatu. As chuvas permanecem reduzidas no Ceará e a consequência direta é a frustração de safra de grãos – milho, feijão e sorgo no sertão. A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) registrou entre as 7h de domingo e 7h de ontem precipitações em apenas quatro municípios: Jaguaretama (8mm), Cariús (2mm), Aquiraz (1mm) e Fortaleza, no Pici, (0.4mm).
A Funceme prevê, para hoje, possibilidade de chuva na faixa litorânea. Nas demais regiões, céu entre parcialmente nublado e claro no decorrer do dia. Para amanhã, nebulosidade variável com possibilidade de chuvas isoladas na faixa litorânea, Serra da Ibiapaba, região Jaguaribana e no Sul do Estado (parte do Cariri). Nas demais regiões, céu parcialmente nublado.
Do sábado para o domingo último, a Funceme não registrou chuva em nenhum município do Ceará. Os dados ainda são parciais porque pode haver alguma notificação tardia. Caso seja confirmada a ausência de precipitações, terá sido o primeiro dia da atual quadra chuvosa sem registro pluviométrico.
Segundo a Funceme, a média pluviométrica de maio é reduzida, de apenas 90.6mm. Até ontem, foram observados 37.3mm, ou seja, havia um déficit de 58.8%. Os dados ainda são parciais, mas apontam para uma tendência para as próximas duas semanas. O principal sistema indutor de chuvas no Ceará, nessa época do ano, a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), permanece afastada da costa norte do Nordeste brasileiro.
O sertanejo e os meteorologistas não alimentam mais esperança de chuvas significativas nesta segunda quinzena de maio. “As precipitações devem permanecer finas, passageiras, isoladas”, observou o meteorologista da Funceme Leandro Valente. “A Zona de Convergência afastou-se para o ponto de origem, não temos sistemas convectivos e o quadro deve permanecer”.
O Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou previsão de chuvas abaixo da média para o trimestre (maio, junho e julho) no Ceará. A Funceme trabalha com previsão para a quadra chuvosa (fevereiro a maio). “Em junho e julho já não temos praticamente chuvas no Estado”, observa o meteorologista Raul Fritz, da Funceme. “Às vezes, em junho ocorrem ondas de leste, trazendo precipitações para o litoral e parte da região jaguaribana”.
Perda safra
Quem percorre o sertão cearense observa em muitas roças a perda do milho, um grão muito cultivado no Estado. “As chuvas foram embora, o inverno acabou”, disse o agricultor Vicente Gomes, da localidade de Cascudo, zona rural de Icó. “Aqui, todo o plantio que foi feito no fim de março está perdido, não prosperou”. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Iguatu, Evanilson Saraiva, disse que já existem produtores rurais que decidiram colocar o gado dentro das roças para comer a plantação. “Não se tem mais esperança de retorno das chuvas e, mesmo que volte a chover, o que está perdido não tem mais como recuperar”, frisou. “É uma tristeza, um prejuízo enorme”.
O diretor técnico da Ematerce, Itamar Lemos, que na semana passada visitou áreas agrícolas em vários municípios do Interior, lamentou a perda parcial da safra. “O inverno vinha bem para a lavoura, mesmo sem recarga nos maiores açudes, mas agora o quadro mudou e muito plantio está se perdendo”, observou. “Isso é lamentável”.
Os órgãos do governo, como a Ematerce e a Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA) ainda não têm levantamento conclusivo da frustração de safra agrícola de sequeiro (aquela que depende exclusivamente das chuvas). Somente no fim deste mês os relatórios da situação de produção serão encerrados a partir de informações dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais, técnicos da Ematerce, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e das secretarias de Agricultura dos municípios.
“Com certeza teremos perda que varia de município para município e até de distrito para distrito”, observou o gerente regional da Ematerce, em Iguatu, Joaquim Virgolino Neto. “O milho não se desenvolveu em muitas áreas por causa do veranico”.
Aportes
A Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) observou, ontem, aumento de apenas 0,9 mi de m³ em dez açudes, destacando-se Acarape do Meio, Angicos, Aracoiaba, Araras, Banabuiú, Caxitoré, Frios, Jaburu I e Taquara. Até o momento, o volume médio acumulado nos 153 açudes monitorados pelo órgão é de 12,66%.
Segundo o Portal Hidrológico da Cogerh, há dez açudes sangrando no Estado Ceará. Os açudes que estão transbordando ficam na região Norte, nas bacias do Acaraú, Coreaú e Litoral. A Cogerh registra 104 reservatórios com volume inferior a 30%; 38 em volume morto e 17 permanecem secos.
Diário do Nordeste